Escrevi esse texto em Dublin, Irlanda, no dia 14 de Junho, temendo não conseguir mais 3 meses de visto.....
Esse texto começa a ser escrito através de uma situação inusitada. Pergunto para Linda, a recepcionista, se ela tem um papel em branco. Depois de passar alguns minutos conversando com ela e dividindo histórias de vida, resolvo que é hora de expressar o significado da minha vinda à Europa.
Estou em Dublin, na Irlanda, uma cidade aonde realmente não esperava descobrir o propósito de tudo isso. E diga-se de passagem, não é o cenário ideal para se encontrar significado pra nada a não ser pra ficar bêbado e escutar boas músicas! Algumas peças aqui se juntaram na minha vida, me fazendo sentir, pela primeira vez, o real significado do que é ESTAR VIVO.
Sempre acreditei que estando aberto para os acontecimentos da vida, e atento para os seus sinais, o universo conspira a seu favor, fazendo que com que tudo que é seu por merecimento venha a você. O que acontece é que muitas vezes pensamos que estamos, ou realmente queremos estar abertos, mas deixamos o medo, a timidez, a baixa auto confiança e estima bloquear tudo o que está reservado para nós, sendo assim caimos no nosso próprio marasmo de que nada acontece e tudo fica sem graça.
Outras vezes colocamos máscaras e interpretamos ser quem não somos (isso realmente acontece com todo mundo) apenas para escaparmos de algumas situações e para, outras tantas, nos sairmos "vitoriosos".
O que aconteceu em Dublin é que, além de eu perceber tudo isso, os sinais que a vida me mostrou foram como um delicioso tapa na cara ( se é que isso, de alguma maneira, pode se tornar algo delicioso de receber!).
Pela primeira vez me vi completamente sozinha. Não tinha ninguém me esperando no aeroporto, não conhecia a cidade, muito menos o país. Não tinha hotel reservado, nem casa de algum conhecido. Sabia mais ou menos a distância do aeroporto pro lugar onde queria ficar, tudo o que eu tinha era um mapa da cidade.
Não tinha ninguém com quem combinar alguma coisa, um almoço ou passeio. Muito menos com quem me preocupar. A única certeza que tinha é que ali teria que ficar 6 noites.
Depois de muito andar, consegui um lugar confortável, num preço razoável pra passar minha quase uma semana. Nas primeiras horas me deixei abater por um tédio enorme. O que eu tô fazendo sozinha aqui? Ao invés de me deixar mergulhar nesse sentimento de que 6 noites seriam uma eternidade, fiz um acordo comigo mesma de que todos os dias que eu acordasse me perguntaria: E ai Kakká? O que você quer fazer hoje? (isso me fez lembrar um livro que acabei alguns dias atrás: COMER, AMAR, REZAR - recomendo, bom demais).
Tendo em mente que deveria somente fazer o que tivesse vontade, o que não foi muito comum no decorrer da minha vida, travei nos primeiros dias. Acho que fiquei quase 24 horas sem ter uma conversa decente com alguém. Descente eu digo, nada além de : um café por favor? Vc vende cigarros aqui? Quanto custa a Guinness? ahahaha!
Meu silencio me incomodava, mas me confortava. Parecia que a minha companhia comigo mesma já bastava. Sai na primeira noite, 2 cervejas já eram o bastante.
No dia 2 voltei a me perguntar: o que vc quer fazer hoje? ( pra ser sincera, ainda me forçando a fazer isso, e também com algum senimento de culpa por estar quieta e meio preguiçosa).
Sem tentar me forçar, fui até um parque e me sentei na grama. Passei a tarde toda lá.
Tava um dia lindo, uma orquesta tocava no coreto......sim um coreto!!!
Voltei pro albergue e conheci Sam, um cara bem tranquilo do norte da Califórnia. Dividiu o quarto comigo por uma noite. Saimos e tomamos umas 3 cervejas. Sai do pub pra comer umas batatas-fritas na calçada da praça. Não sei nem como e nem porque (também resolvi nem achar a resposta), um senhor irlandês ( lá com os seus 65 anos e longos dreadlocks brancos), começou a conversar comigo.
Michael, você quer uma batata?
Michael apareceu como um anjo da guarda. Dois metros de altura, ama o teatro. Místico, sorridente, espiritualista, morria de medo do trânsito, cheio de ensinamentos e mensagens por entre as linhas. Parecia um Lama budista no seu tom de voz e na cadiência das suas palavras, mas estava longe de sê-lo. Ficou irradiantemente (existe isso?) feliz por conseguir entrar num pub comigo, pois, segundo ele, na noite anterior não deixaram ele entrar pela sua aparência. Enquanto dançava uma boa música do anos 70, me agradecia a cada nova frase. No final da noite ele me convidou pra ir ao teatro no dia seguinte. Fiquei meio cabreira, mas pensando em estar aberta para as situações da vida....pensei: porque não???
Dia 3, na última hora decidi ir ao encontro de Michael no teatro. A peça foi brilhante! A luz era fenomenal! Mensagem sobre poder, dinheiro, as máscaras da sociedade e da vida em geral, que cada um tem o que merece, e o que faz por merecer. Realmente a vida é amor, foi a última fala da atriz. Acho que por mais que eu tente expressar o que eu senti, não conseguiria. Iria escrever linhas e mais linhas, ficaria até meio chato, mas o que eu sei é que no final da peça eu tive uma incontrolável crise de choro. Realmente de alguma forma, toda aquela mensagem era tudo o que eu precisava escutar naquele momento. De alguma maneira, tudo aquilo tocou muito fundo em mim.
Outra peça essencial dessa viagem, foi Michelle. Americana tão suave nos seus 22 anos, fez minha alma encher de alegria só por me agradecer de ver o meu sorriso no café da manhã, minutos antes de ela ir embora.
No dia 4 chegaram 3 mulheres irlandesas pra dividir o quarto comigo. Uma delas foi curtir com as amigas uma noite em Dublin, deixando os 3 filhos com o marido. Ficou impressionada que com os seus 39 anos (aparentando quase 50) que não tinha tido coragem de sair viajando como eu. Eu, a mochila, e nada mais. No final da noite, dentro do quarto, tive minha maior crise de riso com ela.....que tinha conhecido algumas horas atrás e que nem sequer lembro o seu nome (sim, aqui na Europa existe nomes bem difíceis de se lembrar!). Foi nessa madrugada que tomei conta do real significado dessa viagem toda.
De que vale a vida senão esses pequenos acontecimentos?
Desses pequenos (e enormes) momentos?
Vale a pena somente sobreviver à vida, aos dias?
Não, não vale.
Vale a pena você vender a sua alma?
Deixar de ser quem você realmente é, só pra agradar aos outros?
Não, não vale.
O que vale é amar a vida cada vez que você colocar ar em seus pulmões.
Cada segundo, cada passo.
Vale não apenas você se deixar levar, mas estar aberto pra isso.
Vale ter propósito, vale ter razão pela qual você faz as coisas, pela qual você decide tomar certas atitudes e não apenas para ver o que vai rolar.
Vale a pena ter objetivo, ter meta e que elas sejam baseadas em seus sonhos, para assim poderem ser realizadas com paixão. Para poderem, realmente, no final terem VALIDO A PENA.
Vale a pena SER FELIZ e não viver buscando a felicidade.
Mais um ciclo se fecha. As peças do quebra-cabeça da minha vida se encaixam tão facilmente agora. Todos os personagens dessa minha vinda à Dublin não têem consciência do que fizeram por mim. Foi muito mais do que uma frase confortante, do que umas boas risadas, ou de ter visto a felicidade de Michael dentro daquele pub.
Eu, por outro lado, tomei consciência do propósito da minha vida. Voltei a ter fé. Voltei a acreditar. Posso dizer que renasci.
Olhe para dentro de você... Tire as suas máscaras. Elas não te servem mais. Carregue a sua cruz sem culpa de ser quem você é.
Melhore. Cresça. Evolua.
E, de coração, tenha uma boa viagem!
Música: Take on me - A-ha
Frase: A felicidade não é o alvo da flecha, e sim a trajetória que ela faz.
Um pouco do sentimento de Dublin....
sexta-feira, 3 de julho de 2009
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