Faz tanto tempo que não escrevo, estava sentindo falta, mas acredito que a prática de dedilhar letra por letra tenha que sair natural e facilmente. Muitas vezes pensei que deveria escrever sobre determinado assunto, mas quando me sentava na frente do computador, simplesmente não saia nada. Passados quase que 3 meses depois da minha última postagem, agora sinto que o texto abaixo vem da parte mais íntima e profunda do meu ser. Por esse motivo ele se torna o mais importante de todos os que eu escrevi, ou os que eu venha a escrever. Nesse tempo, muitas mudanças ocorreram na minha vida. Mudanças realmente significativas, as quais foram tomadas pela minha própria pessoa - consciente e entregue de coração. Tudo novo: novo ar, novo país, nova casa, novo relacionamento, novos amigos, novas esperanças, novos medos, novos trabalhos, nova língua, novas ansiedades, novas cores, novo estilo de vida, novas comidas, bebidas, festas, novos costumes. Um pensamento vem na cabeça "Uau, que demais! Tudo novo. Que felicidade! Quantas pessoas não queriam ter isso na vida?" Paro e agradeço. Agradeço de novo, e mais uma vez. Sim, me sinto uma pessoa abençoada, por poder vivenciar essa experiência e tirar dela a maior quantidade de coisas positivas e das negativas, conseguir amadurecer com elas. Amadurecer. Vou atrás do significado dessa palavra tão usada e que sempre soou, pelo menos pra mim, com um grande anseio de ser encontrada.
Maturação ou amadurecimento:
"Dentro de uma visão psicológica, diz-se o ser humano maduro, aquele que tem uma grande experiência de vida e uma visão melhor dessa no seu sentido filosófico. A maturação, nesse sentido, pode ocorrer após ou durante uma crise psicológica, desencadeada, geralmente, por algum evento importante na vida do indivíduo.
Depois de ler, reler. Paro, penso, reflito. Leio mais uma vez, só pra ter a certeza de que é isso mesmo. Grande experiência de vida, sim eu estou definitivamente tendo uma. Ter uma visão melhor dessa experiência, sim é o que eu, com toda certeza, sempre estou buscando. Pode ocorrer após ou durante uma crise psicológica, OPA! É ai que, mesmo eu descobrindo só algumas horas atrás, é aonde eu me encaixo. Desencadeada, geralmente, por algum evento importante na vida do indivíduo, será mesmo que chegou a minha hora? Nossa, será? Suspiro. Suspiro profundamente, não porque apenas acho que sim, mas por saber que por trás disso vem outras tantas palavras que sempre me assustaram muito.
Responsabilidade. Continuando na mesma linha, vou atrás do significado dessa palavra, pra não apenas colocar aqui o meu conceito e os meus valores, que nesses meus 31 anos, começam me parecer totalmente equivocados.
"Responsabilidade é a obrigação a responder pelas próprias ações, e pressupõe que as mesmas se apóiam em razões ou motivos. Muitos defendem que se não há livre-arbítrio não pode haver resonsabilidade individual, pois as ações pelas quais o indivíduo seria responsabilizado não foram praticadas de livre e espontânea vontade."
Ok. Eu respondo pelas minhas próprias ações? Às vezes, muitas vezes não. Ações apoiadas em razões ou motivos? Não, não, não. Vou ser franca comigo , a maioria das vezes eu respondo pelas que me convém, mas grande parte delas envolvendo outras pessoas e não a mim, sempre pra fazer bem a alguém, muitas vezes sem motivo, ou razão alguma, apenas porque sinto que devo fazer e pronto! Agora percebo que isso se chama o inverso, irresponsabilidade. Responder pelas minhas ações com relação ao que deveria ser responsabilidade do outro. Sim, sou ótima nisso. Mas as minhas? As minhas eu sempre fui deixando pelo caminho, sempre ficavam pra depois. Livre-arbrítrio? Sim, sempre coloquei essa linda palavra na minha vida, mas tomada mais como uma fuga do que para usá-la de forma coerente. Voltando ao significado:
"Uma pessoa responsável, parte-se do príncipio que, tendo a plena consciência das consequências dos seus atos, vai praticá-los em favor do seu próprio e comum bem-estar."
Isso vem como um soco na boca do meu estômago. "Em favor do seu próprio e comum bem-estar". Eu nunca consegui pensar em mim antes de pensar em alguém. E quando eu acho que estou começando a fazer isso, me sinto um tanto quanto egoísta demais pra minha alma. Acho que é aí que está tudo. Sofro, o meu próprio sofrimento. Do meu próprio Eu.
E por fim, eu sabia, o nocaute era inevitável....
"Ser responsável é a obrigação de qualquer cidadão para uma vida saudável em sociedade. É você responder seus atos de acordo com a sua idade."
Hahahahaha! Chega até a ser engraçado! Depois de uma noite em claro na maior crise de choro que eu já tive, todo esse texto toma o mais amplo sentido na minha vida. Nunca quis olhar pra atrás, revirar meu passado, minha infância, minha educação. Nunca quis tocar na falta que meu pai me fez quando eu era criança, e que marca isso deixou em mim. Nunca quis apertar, beliscar, enfiar o dedo nas minhas feridas. Nunca quis me deixar tomar consciência de que elas ainda estão abertas. Sempre guardei os fatos positivos. As coisas belas. Os sentimentos bons. O cuidados da pessoas, o amor, a compaixão.
Da minha infância, guardo as imagens bonitas. Minha vó cuidando de mim, minha mãe sempre me dando atenção quando voltava tarde da noite do trabalho, meus amigos brincando na rua, minha escola. Não é que não tenha que lembrar das coisas boas, mas muitas fichas começam a cair. Me escondi atrás dos bonitos acontecimentos, mascarei muitas das minhas atitudes. Nunca tive uma vida financeiramente estável, desde que me conheço por gente, e isso, confesso, sempre me deixou meio revoltada. Isso me fez ter que trabalhar muito cedo, ter que tomar a responsabilidade que era dos outros. Trabalho e responsabilidade não eram "coisas que andavam juntas" elas era coladas com Super Bonder. Sempre se tornavam pesadas, nunca bem sentidas, muito menos aprimoradas. Uma cruz a ser carregada.
Junto com tudo isso vem o medo. É possível amadurecer sem perder minha essência? Sem perder o meu coração cheio de compaixão, sem perder a minha "meniniçe" (?), sem perder a minha inocência? Travo de pensar que posso virar uma pessoa amargurada e dura. Vivendo somente com a razão e com um resto de sentimento. Não quero isso. Tenho medo. Mas se a vida pede amadurecimento, como em tantos outros momentos, porque novamente pegar o atalho? Fugir de novo adianta? Não, respondo pra mim mesma. Você, Carolina, sempre soube que não.
Suspiro novamente. Meu peito parece mais leve. Agradeço por começar o meu processo de consciência na metade dos meus 31 anos, e nao com 60. Já não importa muito mais o sentimento de culpa que eu sempre tive de que já se passou muito tempo, que parei no ponto, que demorei demais. Agradeço novamente por todas as pessoas que me ajudam a me tornar um ser humano melhor, não por pensar e fazer bem a elas, mas por me conhecer, me descobrir, por pensar em mim. Me amar, antes de amar aos outros!
Agradeço por me sentir exausta nesse momento. Agradeço a você, por conhecer as minhas fraquezas e continuar acreditando em mim.
Obrigada.